Perto do Coração Selvagem

Apresento uma releitura do livro "Perto do Coração Selvagem" de Clarice Lispector, com um design e diagramação que busca traduzir visualmente a intensidade e a complexidade da obra e de sua protagonista, Joana. O livro é estruturado em duas partes distintas: Infância e Vida Adulta, cada qual com uma representação visual específica.

Capa e Partes do Livro:

A capa do livro como um todo, assim como as capas das partes I e II, utiliza o vermelho como cor predominante. Esta escolha não é aleatória: o vermelho foi selecionado por ser uma cor passional, forte e intensa, características que ecoam a personalidade multifacetada de Joana. As ilustrações em tons terrosos, que remetem a ondas formadas pela técnica de pontilhismo, permeiam todas as capas, representando a selvageria inerente a Joana: seus momentos de calma, sua curiosidade pulsante e seus acessos de fúria inesperados. Além disso, as ondas metaforizam a relação entre o leitor e a personagem. Assim como as ondas do mar, Joana se mostra fluida e, muitas vezes, quando o leitor pensa que está prestes a compreendê-la por completo, ela se distancia, agindo de maneiras inesperadas e fugindo a qualquer tentativa de definição estática.

Parte I: Infância: A capa desta seção, seguindo a linguagem visual em vermelho e a técnica de pontilhismo, ilustra a inocência de Joana durante sua infância. O mar se apresenta calmo, transmitindo uma sensação de tranquilidade e as ondas são suaves. Ao centro, um vulto infantil em movimento simboliza a curiosidade e a esperança da personagem em relação ao futuro que a aguarda. A técnica de pontilhismo confere uma delicadeza à figura da criança, reforçando a pureza e o despertar da sua jornada.

Parte II: Vida Adulta: A capa da segunda parte contrasta com a primeira, representando a protagonista em sua fase adulta. Mantendo o vermelho como cor principal e a técnica de pontilhismo, a ilustração retrata uma mulher imersa em um mar agitado, com ondas turbulentas que parecem engoli-la. Essa imagem simboliza a inquietação constante de Joana, sua insatisfação perene e sua busca incessante por algo mais. Apesar do caos que a cerca, o semblante calmo da mulher expressa uma aceitação do turbilhão de experiências, traumas, aprendizados e evolução que marcaram sua vida adulta, mostrando sua capacidade de lidar com o caos interior e exterior. As ondas turbulentas, formadas por pontos, se fundem à figura da mulher, intensificando a sensação de que ela está intrinsecamente ligada a essa energia selvagem.

Tipografia:

Títulos e Capa (Futura): A escolha da fonte Futura para os títulos e a capa se justifica pela sua natureza geométrica e moderna. A Futura, com suas linhas limpas e proporções equilibradas, transmite uma sensação de solidez e atemporalidade, ideal para a gravidade e o impacto dos títulos e para o nome da obra na capa. Sua legibilidade e clareza visual contribuem para a imediata identificação do livro e de suas seções.

Texto Corrido (Frank Ruhl Libre): Para o corpo do texto, optou-se pela Frank Ruhl Libre. Esta fonte serifada, com suas características que remetem a tipografias clássicas, oferece uma excelente legibilidade para blocos extensos de texto. Sua elegância e a sutil variação em seus traços criam uma leitura confortável e envolvente, permitindo que o leitor mergulhe na prosa profunda e introspectiva de Clarice Lispector sem cansaço visual. A combinação de serifas e o espaçamento adequado garantem um fluxo de leitura agradável, crucial para uma obra de tamanha densidade literária.

Em conjunto, a paleta de cores, as ilustrações em pontilhismo e a seleção tipográfica se unem para criar uma identidade visual marcante que ressoa com a essência selvagem e enigmática de Joana e da obra de Clarice Lispector.